domingo, 30 de agosto de 2015

Compressão


Créditos 

Acorda de manhã, sai para o trabalho 
                               sai para o trabalho. 

É sempre o mesmo ônibus lotado, é sempre a mesma vida lotada de tarefas e atribuições, é sempre o mesmo coração vazio que queria lotar-se de alguma coisa. E não sorri para o motorista, não vê beleza no cobrador. Não olha mais pela janela, porque ela é um quadro já familiar, uma pintura desbotada num museu chamado cidade. Não vê graça nos adolescentes entusiasmados e vivos sorrindo no transporte público. 

Acorda de manhã, mas ainda dorme 
                              mas ainda dorme. 

Se passaram muitos anos desde a última vez que acordou, passaram dias vívidos e nunca mais voltaram 
                                                                                                passaram dias vividos e nunca mais voltaram. 


Não há vida sem luz, não há vida sem verdade, não há vida e vai pra nunca mais voltar. 

Não dormia bem, vivia com sono; comia bem mas nunca se enchia. É sempre a mesma falta de vida, num ônibus onde muitos existem, alguns vivem, alguns morrem, alguns dormem. Ainda dorme, mesmo de pé, mesmo quando conversa, mesmo quando é o inverso, mesmo quando um estudante cansado dorme no seu lugar. 

Acorda de manhã e reclama da vida, reclama da vida, mas de que vida? 

Não tem vida para reclamar, reclama da morte. Da morte precoce da juventude, da morte prematura dos sonhos. Reclama desde o menino que não chegou a nascer até ao que já nasceu morto, passando sempre por aquele que ainda vive, pensando sempre naquele que ainda vive. Reclama da vida, reclama das reclamações, reclama que reclama das reclamações de uma vida que reclama. Reclama. 

Acorda de madrugada, há um ronco alheio a lhe incomodar. É alheio, é um estranho, não é um cônjuge; é alheio, não é mais um cônjuge. É alheio às reclamações, é um ronco de quem vive, é um ronco de respiração. Acorda de madrugada e pensa na vida, pensa na morte da vida, pensa na morte porvir. Pensa e reclama, e dorme reclamando, e acorda de manhã, sai para o trabalho, mas ainda dorme e reclama da vida. 

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Cecília e o carrinho de rolimã



João Paulo chegou do escritório depois de um longo dia de trabalho e foi para a faculdade. Luan, que pouco fazia da vida, estava cansado de procurar emprego. Eleonora estava triste, amargurada com a morte do pai; chegou em casa e foi cuidar do almoço para o dia seguinte. Ricardo estava preocupado com o vestibular, preocupado com a entrevista de emprego do dia seguinte, preocupado com essas coisas que os meninos quase homens geralmente se preocupam. Cecília chegou cansada em casa, depois de um longo dia de trabalho e estudo, pensando nas provas, na família, no amor que ardia e queimava em seu peito... Cecília era uma moça comum, tão comum quanto os outros citados acima, mas vamos, vejamos a história de Cecília.

Cecília era uma moça que havia sido obrigada a se tornar mulher muito cedo. Seu pai havia morrido quando ela tinha apenas treze anos, e assim que teve idade para isso, começou a trabalhar para ajudar sua mãe. Cuidava de casa, pagava algumas contas, ajudava na educação do irmão mais novo, já era mulher feita. O problema é que mulheres e homens feitos acabam por se esquecer de sonhar, seja por conformismo ou falta de esperança, ou falta de tempo e dinheiro.

A família de Cecília, como você pode notar, não tinha dinheiro. Tempo? O tempo da coitada era divido em trabalhar, ir a escola, cuidar de casa e estudar. Esperança? Cecília era pé no chão, outra coisa que veio com sua “adultisse”, sabia que os vestibulares eram concorridos e que não poderia pagar uma faculdade particular. Mas ainda assim, com todos esses problemas, Cecília não se conformava.

Chegou em casa para uma noite comum em que fazia comida, ajudava na tarefa do irmão e estudava para alguma coisa do colégio, mas deparou-se com crianças brincando na rua. As via ali todos os dias, principalmente agora, que haviam “descoberto” as alegrias de um carrinho de rolimã, e sempre sorria. Não lembrava muito da última vez que parou para brincar.

– Ceci, vem descer a ladeira com a gente! – gritou um que concertava um carrinho. Cecília olhou. Olhou para seus braços, carregados de livros; olhou para sua casa, onde sua mãe estaria à sua espera; olhou, contudo, para dentro de si, e sabia que não poderia resistir a tal chamado.

Cecília caros leitores, desceu a ladeira naquele carrinho de rolimã. Um pouco de medo pairava em seu coração, aquele medo que a gente adquire quando deixa de brincar, mas foi justamente esse medo que tudo ficar mais incrível. Era uma menina de 18 anos, já mulher feita, que tinha prova de Química no dia seguinte, largando tudo para descer uma ladeira sentada num pedaço de madeira que a levou para muito além da esquina – levou-a para um mundo juvenil, um mundo que a fazia ainda ter esperança nessa vida, um mundo esquecido pelos adultos e desconhecido por muitas crianças do nosso Brasil.


Cecília desceu no carrinho de rolimã, e chorou, e se lavou, e foi feliz. Dia seguinte, era o mesmo colégio, o mesmo trabalho; era a prova, era o irmão, era o dia seguinte, mas as pessoas que saboreiam, nem que seja um resquício só, de juventude quando essa foi engavetada, não são mais as mesmas. Podem até ser novamente sufocadas pela rotina, podem até acabar se esquecendo outra vez do mundo juvenil, mas o mundo juvenil nunca as esquece, o mundo juvenil nunca as deixa. 

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

1439



Nós tínhamos o costume de nos abraçarmos em cada canto dessa nossa alta, fria e convexa cidade, mas hoje nós não nos abraçamos mais – nós não estamos mais na mesma cidade. 

Eu, que tanto fui andarilha pelas diversas cidades desse país, que tanto disse tchau para amigos, professores e vizinhos, posso hoje dizer com toda convicção: é pior pra quem fica. É pior pra quem fica e passa por todas as praças onde risos e olhares foram trocados, por todas as ruas que outrora assistiram o amor e toda sua pureza, por todos os cômodos da minha casa que já foram palco de pirraças, sonhos e beijos. 

É pior pra quem fica, mas não sei dizer se é pior quando a saudade é recíproca. Porque a reciprocidade faz arder no peito um chama de esperança que o oposto dela não faria. Uma chama de esperança que aquece o coração quando chega mais um dia 23 e você não está aqui, mas que também queima o peito, arde querendo te encontrar com seus negros caracóis ao vento andando pelas ruas da nossa cidade com um violão nas costas. 

É uma chama que conforta, mas também machuca. Cuida de mim nas noites frias, mas também me faz lembrar que não há nenhum cobertor nessa cidade capaz de me aquecer como você o fez, então ela me queima, me pede para não te esquecer, não me deixa te esquecer. 

Nós tínhamos o costume de sumirmos um da vida do outro quando perdíamos as esperanças em nós mesmos, mas agora que estamos distantes, queremos a todo tempo voltar, nem que seja para dizer adeus, nem que seja para nos afastarmos outra vez. 

E o coração, que antes que acelerava com um toque das mãos, com os olhares, com os abraços no meio da rua, hoje se contentou em palpitar quando chega mais uma mensagem, porque já se conformou e parou de te procurar pelas ruas da nossa cidade, parou de querer te chamar pra andar comigo por aí num domingo em que eu não tenho nada para fazer, ou numa quinta-feira em que eu preciso estudar mas prefiro ficar ao seu lado. 

E assim vou vivendo, sem a poesia que você era pra mim. Sem a poesia, que hoje se tornou prosa, mas não deixa de rimar. Vou vivendo, ora com saudade e esperança, ora com medo e desistência, sabendo sempre que os ventos nunca erram a direção.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

E por falar em saudade...

Já estão trocando meu nome por saudade de tanto que eu ando falando disso. Mas gente, eu mereço perdão. Pessoas que eu amo estão em São Paulo, em Brumado, Guanambi, outro bairro, outra dimensão. Eu sei, eu já deveria estar acostumada, mas fazer o que, não dá pra ignorar a falta que as pessoas fazem aqui no meu pequeno universo.
  
Enfim, por isso resolvi fazer uma playlist de músicas "saudadosas", músicas que talvez não represente saudade pra você, mas tocam meu coração, fazem-me lembrar de quem eu queria que estivesse aqui. 

Então, vamos lá! 




1. Geraldo Azevedo - Ai que saudades d'ocê.



2. Guns n' Roses - Patience 




3. Dorival Caymin - Saudade da Bahia


4. Alceu Valença - Solidão


5. Saulo Duarte - Tô que tô... saudade



Espero que gostem, meus queridos, e lembrem-se que o vento nunca erra a direção pra onde leva suas folhas.

Abraços!



domingo, 16 de agosto de 2015

Resenha - Harry Potter e o Prisioneiro de Askaban.




O verão de Harry já estava terminando quando a família Dursley recebeu a visita da sempre bem-vinda Guida. Bem-vinda, é claro, para Duda, Walter e Petúnia, mas não para Harry, que vivia verdadeiros pesadelos quando a irmã de Walter aparecia na Rua dos Alfeneiros, 4. Após uma confusão, em que Harry acabou transformando a tia em um balão, o nosso menino-que-sobreviveu saiu às pressas de casa, sem ter um lugar para ir, decido apenas que não ficaria mais nenhum momento na casa dos tios, e é então que, durante sua primeira viagem no Nôitibus Andante, ouve pela primeira vez um bruxo falar do temível Black.


Na época da ascensão de Voldemort, Black havia sido um dos seus fiéis seguidores, tendo matado de uma só vez vários trouxas quando foi encurralado e também Pedro Pedigrew, de quem sobrou apenas o dedo mindinho. Não conseguindo escapar, Black foi capturado e aprisionado em Askaban, a prisão de bruxos protegida por Dementadores, terríveis criaturas que tem a capacidade de sugar do ser toda sua felicidade.

Em Harry Potter e o Prisioneiro de Askaban a trama oriunda do medo do fugitivo Black vai se misturando com divertidas aulas de Defesa Contra as Artes da Trevas, lecionadas agora pelo misteriosos e amigável Remo Lupin e medonhas aulas de Trato das Criaturas Mágicas, onde o velho amigo Hagrid passa a ensinar aos alunos do terceiro ano sobre as mais variadas criaturas mágicas.


Também entra em cena o povoado inteiramente mágico de Hogsmead, que os estudantes podem visitar a partir do terceiro ano, contanto que obtenham assinatura dos pais ou responsáveis. Harry, coitado, não conseguiu convencer os tios a assinarem um papel para permiti-lo ir, mas não sai em total desvantagem. Fred e Jorge, os gêmeos irmãos de Rony, dão-lhe de presente O Mapa do Maroto, que mostra em tempo real todo o castelo de Hogwarts, incluindo suas passagens secretas e as pessoas que estiverem dentro dos limites da escola. Com esse mapa e sua capa de invisibilidade é que Harry pode se divertir em Hogsmead com seus amigos e também descobrir que o Mapa, enfeitiçado para mostrar em que localidade do castelo estão as pessoas, mostra também Pedro Pedrigew, assassinado por Black. 

Acrescidas a isso tudo encontram-se as pistas cada vez mais evidentes de que Black encontra-se justamente no castelo de Hogwarts, planejando, segundo todos desconfiam, capturar Harry e ir a procura de seu antigo senhor, Lord Voldemort. Sem contar que os Dementadores, enviados de Askaban para “protegerem” Hogwarts tinham uma enorme influência sobre Harry, aparecendo em momentos inesperados e fazendo com que a vaga lembrança do dia da morte de seus pais venha à tona. 
  
Eis que a figura de Remo Lupin entra verdadeiramente em cena. Oferecendo aulas para que o garoto possa aprender o feitiço que conjura um patrono capaz de afastar Dementadores
 Expectro PratonumLupin deixa de ser apenas um professor amigável e passa a ser um professor amigo. E é por meio dessa amizade que Harry descobre que Lupin fazia parte da turma de amigos de seu pai, Thiago, dentro os quais estavam inclusos Pedrigew e o próprio Sirius.

O vínculo criado entre Harry e Lupin permanece por toda a história. São duas pessoas boas, com marcar terríveis do passado e do presente, que não se deixaram contaminar pelas coisas ruins que lhes aconteceram, antes, lutaram até o final para que a justiça pudesse ser estabelecida. Talvez essa seja a principal mensagem que toda a série nos transmite: a não conformidade com as mazelas do mundo, o não se deixar levar pelas más influências, não deixar que um passado triste seja pretexto para um futuro cruel. 
  
Ufa! Embora muitos digam que O Prisioneiro de Askaban é um livro sem muita importância na série, julgo-o como imprescindível. A história da morte dos pais de Harry é melhor analisada nesse livro. Criaturas cada vez mais poderosos e inimagináveis vão surgindo. Os vínculos de amizade se tornam mais forte, os vínculos de amizade fortalecidos se tornam cada vez mais necessários. Harry e Hermione voltam no tempo para evitar que duas vidas inocentes sejam perdidas.  Pessoas ruins vão ficando cada vez mais ruins, pessoas justas vão lutando cada vez mais por justiça. 
  


Sei que  contando mais desse livro do que dos outros, mas é porque minha paixão pelo Prisoneiro de Askaban (o filme e o prisioneiro propriamente dito <3) 
destaca-se em meu coração. Não vou contar o final, que é a parte mais importante, porque sei lá, vai que alguém aqui ainda não leu. Mas uma dica que deixo para aqueles que já leram o livro 3 e para os que ainda lerão é que leia nas entrelinhas. Sim, o Prisioneiro de Askaban é mais do que os seus olhos podem ver (Vai Pitty!), é mais do que um simples capitulo na vida de Harry. 



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